Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Pezinhos de lã

Pezinhos de lã

Amor de serviços mínimos

Li, algures, que a atenção que damos e que recebemos dos outros é, nos dias que correm, uma grande dádiva, quase um prémio. Por isso, a expressão “ Um momento da vossa atenção, por favor”, nunca fez tanto sentido, já que conseguir que as pessoas levantem o olhar dos seus telemóveis para nos encararem e olhar nos olhos em silêncio, ouvir-nos efetivamente e prestarem atenção ao que dizemos, sem parecerem zombies ausentes deste mundo e desta realidade, é, cada vez mais, uma tarefa dificílima: árdua e penosa, diria até.

Isto aplica-se a qualquer tipo de relação, mas é dramático quando chega ao casal, seja ele de casamento com aliança no dedo, de namoro recente ou de vida em comum.

Fui sempre a favor dos avanços e das novas tecnologias, mas nunca imaginei que chegássemos ao ponto de mendigar a atenção da nossa cara metade.

Em casa, nos restaurantes, nas esplanadas dos cafés, à espera da consulta, é vê-los focados nos seus ecrãs enquanto o/a parceiro/a tenta, desesperadamente, meter conversa, contar uma piada, ganhar um gesto de afeto, acabando por desistir e remeter-se, também ele/ ela à solidão do seu telemóvel.

Nunca houve tanta facilidade em comunicarmos e, afinal, estamos cada vez mais sós e separados uns dos outros.

Negligenciamos o que verdadeiramente importa, mergulhando em histórias que não são as nossas, em tik-toks tão engraçados como efémeros, em amizades ocas, estupidamente virtuais. É o eu a sobrepor-se ao nós, o individualismo sobre a partilha e a cumplicidade, que vão enfraquecendo a cada dia.

Vivemos numa época de desinvestimento nos relacionamentos, nos olhares, no abraços, na intimidade.

E assusta-me esta forma de amar, como se não fosse importante, como se não fosse merecido, como se não valesse a pena, como se não fosse nada.

Receio e dispenso este estranho amor, de serviços mínimos...