Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Pezinhos de lã

Pezinhos de lã

Dezembro, ainda

Dezembro, ainda

Adoro dias de Sol e de frio. Adoro dias como o de hoje em que o céu, azul celeste, convida a sair da toca. Sol de inverno, mal aquece o rosto gelado, que fecha os olhos com tanta luz… Agasalho quente, mãos na algibeira. Frio polar, dizem na televisão. E eu penso logo em ursos brancos, em glaciares e toneladas de neve. Qual frio polar? Frio apenas, frio de dezembro….

Dezembro é para mim o mês das lembranças. Nada a fazer. No canto da sala piscam as luzes do pinheiro, ao lado dorme o Menino numa cabana, duplamente improvisada, pela História e pela minha falta de jeito para os trabalhos manuais. Pendurei, até, uma gambiarra na cortina, para dar um ar mais natalício ao espaço. Não adianta: decididamente o meu estado de espírito não acompanha o calendário.

Diz o calendário que é altura de dar e receber. E hoje recebi dois separadores para livros, desenhados e pintados à mão. Originais e muito bonitos. Obrigada. São duas árvores típicas desta zona, explicaram-me. Muito giras, adoro as cores. Que pena eu ser tão pouco prendada para estas coisas. Mas gosto de árvores e tenho uma coisa com os plátanos, desde a infância. Mas os plátanos não são daqui, apesar de haver muitos em Alijó. Como raio é que vieram parar os Plátanos a Alijó?

Quando eu era miúda, o meu pai costumava ir jogar às cartas todos os domingos. Depois de conseguir deixar o tabaco, a sueca passou a ser o seu único vício. Como um ritual, após o almoço, ia buscar o capacete e descia ao encontro da sua pequena mota, que punha a trabalhar um pouco, para aquecer. Depois, olhava para a varanda, onde eu o observava ansiosa, e sorria. Queres vir, que eu deixo-te na tua madrinha? Eu dava um salto, e, em poucos minutos, estava sentada atrás dele, com um capacete em forma de penico enfiada na cabeça. Castanho, com umas riscas de fita-cola amarela atrás, a fazer de refletor. Somos uma família de improvisadores…

             E os plátanos, afinal?

Nem consigo explicar as sensações que aquele trajeto me proporcionava. Os meus braços eram demasiado pequenos para conseguir abarcar o corpo do meu pai, homem alto e possante, valente na postura e no caráter (Valentim, nome adequado.) Mas eu entrelaçava as mãos, por cima da sua barriga, encostava a cara no meio das suas costas e fechava os olhos, rendidos ao poder do vento.... Chegados à avenida dos plátanos, eu não baixava as armas, mesmo piscando os olhos a uma velocidade dolorosa, com lágrimas a escorrer pela face, eu resistia: e de repente lá estavam os plátanos, árvores brancas, mágicas, gigantes, estendidas pela avenida, dos dois lados da estrada, imponentes e entrelaçadas. Um túnel de ramos que me transportava para outro mundo.  Os plátanos eram fadas, esbeltas e sedutoras?

Quando passávamos a avenida, os meus olhos podiam finalmente encontrar o descanso. Abraçava-me mais ao meu pai e imaginava-o rei de um reino encantado, onde houvesse muitos plátanos, flores, duendes e fadas boas. Não havia, na minha lista de conhecimentos, nenhum homem superior ao meu pai, porque ele era o homem mais bonito e mais forte do mundo ( apesar daquele capacete ridículo que trazia na cabeça). Ele estaria sempre presente e seria o meu protetor e defensor, em todos os momentos…

Dezembro é para mim o mês das lembranças e tenho uma coisa estranha com plátanos…

4 comentários

Comentar post