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Pezinhos de lã

Pezinhos de lã

Maria rainha, Maria mulher

Acabei de ler o romance de Isabel Stilwell sobre D.Maria I. 

Quando peguei no pesado livro, pensei que a escrita e a história teriam de ser muito interessantes para eu levar a leitura até ao fim. Não me desiludiu: excluindo as partes relativas à troca de correspondência entre a rainha e a priora da Estrela, assim como a questão do escritor inglês que desejava, a toda a força, ser aceite pela corte portuguesa, ocupando com isto uma série de páginas, a história flui e prende com todo o seu conteúdo, aliado às vastas e cativantes personagens, maioritariamente verídicas, que Stilwell traz para uma história que é a nossa, do país e da Europa dos finais do séc.XIX.

O romance centra o seu olhar na figura de D.Maria I, uma mulher dócil e frágil que tenta equilibrar todas as suas obrigações e compromissos, de filha, de esposa e de mãe, de rainha de Portugal e de cristã fervorosa. D.Maria I, Princesa da Beira, vive num tempo tumultuoso, de mudanças drásticas na Europa e no mundo.

No trono de Portugal, a rainha tenta salvaguardar a memória de seu pai, D.José I, ao mesmo tempo que procura compensar os injustiçados e as suas famílias das más decisões do falecido rei, alimentadas pelo marquês de Pombal. Como se a política interna não bastasse, com todos os assuntos difíceis que tem para resolver, ainda tem de tomar uma posição em assuntos internacionais delicados, como a independência dos Estados Unidos ou a questão das alianças de e com outros países europeus. Neste tabuleiro de política externa, joga pelo seguro e consegue, surpreendentemente, manter sempre a neutralidade do nosso país. 

Maria quer fazer tudo bem, pois é "uma santa", repete-lhe o marido, D.Pedro III, "está destinado", insiste a priora da Estrela (que, supostamente, recebe mensagens de Deus, convencendo disso a rainha ), esta controla as emoções, finge, nada deixa transparecer, mas os seus esforços nunca chegam, a sua fé imensa não consegue aliviar o seu fardo, demasiado pesado, nem pôr fim aos seus receios, à sua tristeza e melancolia.

De França surgem ventos ameaçadores: é o povo a revoltar-se contra uma nobreza ociosa e dispendiosa, a reclamar pão e justiça. São as doenças e a morte a proliferar. É uma monarquia presa por um fio. 

D.Maria I, rainha de Portugal, devota fervorosa, defensora dos pobres e de um reinado de paz, sente-se perdida e, com a morte dolorosa dos que a amparavam, nomeadamente do marido, da criada Rosa e dos filhos, sem o apoio do seu confiável confessor, pressionada por todos os lados e por um segredo impossível de cumprir, acaba por perder o seu débil equilíbrio, desmorona, cedendo à loucura...

Pouco sabia sobre D.Maria I, a rainha louca, e o que tinha lido eram sobretudo datas, tratados, decisões, pouco mais.

Olhamos para a História e para os nomes do nosso país, neste caso para a figura desta rainha, e nada sabemos sobre a pessoa, os seus hábitos, os seus gostos, os seus medos, apenas aprendemos como governou e qual o seu legado.

Mais do que a história de uma rainha, este livro de Isabel Stilwell deu-me a conhecer uma mulher enorme: culta, sensível, meiga, carinhosa, inteligente, justa, compassiva, mas também frágil, assustada, influenciável, supersticiosa, indecisa, sismada, sofrida, enfim... humana.

Aprendi, refleti, sorri, emocionei-me, distanciei-me, identifiquei-me, com esta rainha a quem pediram que fosse tudo, para todos, quando isso não é possível, pois ela era, na verdade, como todas nós, apenas uma mulher.

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