Tempo é coisa rara
Houve quem dissesse que a pandemia que se abateu nas nossas vidas ia acabar por trazer coisas boas. Por exemplo, que as pessoas iam ficar mais preocupadas umas com as outras, que fortaleceriam os laços, enfim, que seriam mais empáticas.
Sinceramente tive dúvidas quanto a este desígnio generalista proporcionado por tão vil bicho...e a guerra na Ucrânia, entre outros tristes exemplos de desumanidade, deu-me razão.
A título pessoal, e porventura em virtude das muitas perdas, esta experiência permitiu-me fazer algumas reflexões, nomeadamente quanto ao meu trabalho e sobre a forma como me relaciono com quem me rodeia: família, amigos, colegas ou meros conhecidos. Essencialmente, pensei sobre o tempo que lhes dedico, no quotidiano ( ao trabalho e às pessoas) e se ele vale mesmo a pena ou se ainda será pouco...
Quando somos crianças, queremos que o tempo passe, queremos ser grandes e ser algo ou alguém. Com entusiasmo, respondemos às nossas tias e avós " Quando for grande, quero ser médica, cabeleireira ou atriz". E esta amálgama de vontades parece fácil, possível e perfeita nas nossas cabeças entrançadas, só falta o maldito tempo passar e tudo se realizará, qual conto de fadas...
O tempo não falhou e passou, entretanto. Não fui médica, nem cabeleireira, nem atriz, mas cortei as tranças, tive filhos, cães e gatos e agora tenho um jardim e escrevo umas coisas num blogue.
Sei o tempo que vivi, mas desconheço o tempo que me resta. Apenas tenho a certeza de que é precioso, que vai continuar a passar muito depressa e que tentarei aproveitá-lo da melhor forma, a fazer o que realmente interessa, com quem fica e está juntinho ao meu coração.
Pois tempo, como é sabido, é coisa rara.